O Circo | The Circus | 2020
Senhores e senhoras, meninos e meninas o espectáculo vai começar! O apresentador de cartola preta, fraque vermelho e botas de cano alto anunciava, assim, o momento tão desejado pelas centenas de crianças que inundavam o recinto do majestoso Coliseu do Porto. As luzes apagam-se lentamente e os holofotes dirigiam o nosso olhar para aqueles que aguardávamos ansiosamente: o malabarista, o mágico, o contorcionista, o acrobata e, claro, os palhaços (o rico e o pobre). O pobre sempre foi o meu preferido! O intervalo, a meio do interminável espetáculo, era o interregno daquela onda de emoção e alegria, docemente recompensado pelo sabor de um chupa chupa, do algodão doce, ou da tablete de chocolate. As nossas mãos miudinhas tornavam-se pequeninas para agarrar tamanha guloseima! Terminado o espetáculo, pairava um vazio nas nossas almas, devido ao abandono daquele estado de felicidade momentâneo. O Circo com todo o seu esplendor é uma das memórias de infância que mais perdura ao longo das nossas vidas e, talvez por essa razão, não deixei de transmitir esse testemunho aos meus filhos e mais recentemente aos meus sobrinhos-netos. Nada melhor que o registo fotográfico para perpetuar esses momentos e lugares onde já fomos felizes. Como tal, decidi partir daqui para a criação deste projeto de memória afetiva, agora em tempo de plateias vazias, mas sempre com a enorme vontade de revisitar os espaços do nosso imaginário que, como património imaterial que são, ninguém pode proibir de os frequentarmos. Isso nunca!